quinta-feira, 25 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
e-Democracia, porque a Rede Social da Câmara não vai funcionar?
Hoje foi um belo dia para aqueles que acreditam na Internet como meio de fortalecer a democracia. A Câmara dos Deputados lançou a sua rede social com o intuito de estimular a participação popular: e-Democracia.
E digo que o dia foi bonito porque isso prova que a Casa tomou a iniciativa de fazê-lo, mostrou que acredita na Internet e reconhece os frutos que virão de tal projeto.
Porém, a parte otimista do post acaba por aqui. Já que é possível que na verdade os comandantes da Câmara não acreditem em nada, e esta seja simplesmente uma ideia que eles resolveram apostar como uma maneira de gerenciar a crise da falta de prestígio do Congresso.
Ao visitar a e-Democracia, já de início percebe-se que está ainda inacabada, em fase de testes. Basta tentar se cadastrar para ter a constatação:
- 2 emails de confirmação de cadastro, sendo um deles do Gmail (?!);
- Links que não funcionam -- problema também constatado pelo Blog do Tom;
- Email de "confirmação da confirmação" em Inglês: "Your http://www.edemocracia.camara.gov.br membership has been approved. Please return to http://www.edemocracia.camara.gov.br to log into http://www.edemocracia.camara.gov.br." (esse ao menos vem do email edemocracia@camara.gov.br);
- Front-end da rede em Inglês (você tem que mudar a Língua no seu perfil se quiser o Português);
- Foto do perfil do usuário é limitado a míseros 200Kb.
São detalhes como esse que provam que a plataforma não estava pronta para ser lançada e não passou por testes básicos antes de vir a público, o que é muito preocupante.
Dito isso, não creio que o cadastro como as áreas da rede com palavras em Inglês , seja o pior dos problemas, já que devem e podem ser consertados facilmente.
O que me preocupa é a lógica da rede participativa, já que a falta de conhecimento e experiência da equipe da Câmara na área de Governo 2.0, lhe fizeram criar fórmulas "nuncas antes vistas ou navegadas no mundo" para promover a participação.
A primeira lição que se aprende com os pioneiros em iniciativas participativas é que "não devemos reinventar a roda", isso quer dizer que se já existem soluções para determinados problemas. Porque reinventá-los? Ou seja, por que não adaptar uma das tantas iniciativas de sucesso dos EUA? Ô Temer, o sucesso seria garantido e com (um bem provável) investimento menor.
Mas ao invés de perguntar "porque não copiaram iniciativa tal ?", eu prefiro analisar mais a fundo e abordar a provável linha de pensamento dos Gurus em Internet na elaboração do projeto:
Problema observado por eles: "a Internet é um ambiente caótico, que não existe controle e supondo que teremos uma efetiva participação de centenas de milhares de pessoas, não poderemos acompanhar ou fiscalizar todas as opiniões do público".
Solução pensada por eles: "Fazemos então 2 grupos de discussão: um para o povão e outra para uma elite, que será limitada e organizada":
- o do povão: "Espaço Cidadão", para os não especialistas: que na prática deve servir só pra justificar que o site está aberto para todos -- que todos são bem-vindos. Mas na prática tem tudo pra virar apenas estatística, já que os temas serão debatidos "de verdade" pelos especialistas que comporão o outro grupo de discussão.
- o da elite: "Comunidade Virtual", para os especialistas, aqueles que compõe a cena política atual e de acordo com o tema de cada comunidade, colaboradores de empresas que tenham como especialidade a comunidade abordada.
A 1ª preocupação é a de como tais especialistas serão escolhidos? Baseados em que critérios? Quem fará a moderação? Já que na prática, essa sim será onde um debate construtivo será realizado.
A verdade é que este modelo não funciona. Discriminar a participação separando leigos de especialistas não garante um debate organizado. O que falta é a criação de formas de avaliação e criação de rankings e maior liberdade ao usuário por exemplo.
A e-Democracia não permite que o usuário inicie temas ou comunidades de discussão (até o momento, só podemos debater sobre o Meio Ambiente), isso quer dizer que ficará nas mãos de Michel Temer os temas que ele quer que debatamos e quem deve debatê-los! Sejamos sinceros, isso combina com Democracia? E vamos combinar, muito esperto começar com Meio Ambiente, não?! Já que que é um tema que ninguém é doido de contrariar. Fica claro cada pedacinho de tentativa de estratégia criada para o lançamento.
Como isso deveria ser feito?
São várias formas, exitem modelos muito mais amplos que teriam a capacidade de gerar uma real discussão de temas em todos os níveis e áreas do nosso país! Mas creio que este deve ser o tópico de outro post.
Partindo então da estrutura atual da e-Democracia, detalho exemplos do que falta à estrutura do projeto:
- Capacidade de procurar propostas de leis através dos temas, de autores, por importância (votada pelos usuários), por estados beneficiados, mais discutidas, mais vistas, mais bem avaliadas;
- Capacidade de voto positivo ou negativo em temas de dicussão e em cada comentário (assim como fazemos no YouTube);
- Ranking também de usuários: mais bem avaliados, mais ativos...
E claro, também estratégias de RP e nas outras redes e mídias sociais já presentes na web. Que a Câmara desconhece.
Especialistas podem entrar como convidados e terem suas propostas em destaque (com vídeos por exemplo), mas nunca em separado.
A rede deve disponibilizar métricas que sejam capazes de fazer o próprio usuário DEMOCRATICAMENTE expor suas idéias, abrir seus temas, contar as peculiaridades do seu município e então ter os seus pontos de vista apoiados ou não pela própria rede e não um funcionário da Câmara. (A Casa não vai querer seguir esse molde para depois ser comparada com censura de ditadura, ou vai?)
É preciso ser bastante cuidadoso com tudo isso.
Uma estrutura ideal de debate não se contrói da noite pro dia, você deve convidar os usuários, adaptando a cada realidade, para tê-los fazendo parte de todo o processo.
Me resta desejar boa sorte à equipe da e-Democracia na Câmara, para que consigam realizar as mudanças necessárias.
Postado também no Tática Política.
E digo que o dia foi bonito porque isso prova que a Casa tomou a iniciativa de fazê-lo, mostrou que acredita na Internet e reconhece os frutos que virão de tal projeto.
Porém, a parte otimista do post acaba por aqui. Já que é possível que na verdade os comandantes da Câmara não acreditem em nada, e esta seja simplesmente uma ideia que eles resolveram apostar como uma maneira de gerenciar a crise da falta de prestígio do Congresso.
Ao visitar a e-Democracia, já de início percebe-se que está ainda inacabada, em fase de testes. Basta tentar se cadastrar para ter a constatação:
- 2 emails de confirmação de cadastro, sendo um deles do Gmail (?!);
- Links que não funcionam -- problema também constatado pelo Blog do Tom;
- Email de "confirmação da confirmação" em Inglês: "Your http://www.edemocracia.camara.gov.br membership has been approved. Please return to http://www.edemocracia.camara.gov.br to log into http://www.edemocracia.camara.gov.br." (esse ao menos vem do email edemocracia@camara.gov.br);
- Front-end da rede em Inglês (você tem que mudar a Língua no seu perfil se quiser o Português);
- Foto do perfil do usuário é limitado a míseros 200Kb.
São detalhes como esse que provam que a plataforma não estava pronta para ser lançada e não passou por testes básicos antes de vir a público, o que é muito preocupante.
Dito isso, não creio que o cadastro como as áreas da rede com palavras em Inglês , seja o pior dos problemas, já que devem e podem ser consertados facilmente.
O que me preocupa é a lógica da rede participativa, já que a falta de conhecimento e experiência da equipe da Câmara na área de Governo 2.0, lhe fizeram criar fórmulas "nuncas antes vistas ou navegadas no mundo" para promover a participação.
A primeira lição que se aprende com os pioneiros em iniciativas participativas é que "não devemos reinventar a roda", isso quer dizer que se já existem soluções para determinados problemas. Porque reinventá-los? Ou seja, por que não adaptar uma das tantas iniciativas de sucesso dos EUA? Ô Temer, o sucesso seria garantido e com (um bem provável) investimento menor.
Mas ao invés de perguntar "porque não copiaram iniciativa tal ?", eu prefiro analisar mais a fundo e abordar a provável linha de pensamento dos Gurus em Internet na elaboração do projeto:
Problema observado por eles: "a Internet é um ambiente caótico, que não existe controle e supondo que teremos uma efetiva participação de centenas de milhares de pessoas, não poderemos acompanhar ou fiscalizar todas as opiniões do público".
Solução pensada por eles: "Fazemos então 2 grupos de discussão: um para o povão e outra para uma elite, que será limitada e organizada":
- o do povão: "Espaço Cidadão", para os não especialistas: que na prática deve servir só pra justificar que o site está aberto para todos -- que todos são bem-vindos. Mas na prática tem tudo pra virar apenas estatística, já que os temas serão debatidos "de verdade" pelos especialistas que comporão o outro grupo de discussão.
- o da elite: "Comunidade Virtual", para os especialistas, aqueles que compõe a cena política atual e de acordo com o tema de cada comunidade, colaboradores de empresas que tenham como especialidade a comunidade abordada.
A 1ª preocupação é a de como tais especialistas serão escolhidos? Baseados em que critérios? Quem fará a moderação? Já que na prática, essa sim será onde um debate construtivo será realizado.
A verdade é que este modelo não funciona. Discriminar a participação separando leigos de especialistas não garante um debate organizado. O que falta é a criação de formas de avaliação e criação de rankings e maior liberdade ao usuário por exemplo.
A e-Democracia não permite que o usuário inicie temas ou comunidades de discussão (até o momento, só podemos debater sobre o Meio Ambiente), isso quer dizer que ficará nas mãos de Michel Temer os temas que ele quer que debatamos e quem deve debatê-los! Sejamos sinceros, isso combina com Democracia? E vamos combinar, muito esperto começar com Meio Ambiente, não?! Já que que é um tema que ninguém é doido de contrariar. Fica claro cada pedacinho de tentativa de estratégia criada para o lançamento.
Como isso deveria ser feito?
São várias formas, exitem modelos muito mais amplos que teriam a capacidade de gerar uma real discussão de temas em todos os níveis e áreas do nosso país! Mas creio que este deve ser o tópico de outro post.
Partindo então da estrutura atual da e-Democracia, detalho exemplos do que falta à estrutura do projeto:
- Capacidade de procurar propostas de leis através dos temas, de autores, por importância (votada pelos usuários), por estados beneficiados, mais discutidas, mais vistas, mais bem avaliadas;
- Capacidade de voto positivo ou negativo em temas de dicussão e em cada comentário (assim como fazemos no YouTube);
- Ranking também de usuários: mais bem avaliados, mais ativos...
E claro, também estratégias de RP e nas outras redes e mídias sociais já presentes na web. Que a Câmara desconhece.
Especialistas podem entrar como convidados e terem suas propostas em destaque (com vídeos por exemplo), mas nunca em separado.
A rede deve disponibilizar métricas que sejam capazes de fazer o próprio usuário DEMOCRATICAMENTE expor suas idéias, abrir seus temas, contar as peculiaridades do seu município e então ter os seus pontos de vista apoiados ou não pela própria rede e não um funcionário da Câmara. (A Casa não vai querer seguir esse molde para depois ser comparada com censura de ditadura, ou vai?)
É preciso ser bastante cuidadoso com tudo isso.
Uma estrutura ideal de debate não se contrói da noite pro dia, você deve convidar os usuários, adaptando a cada realidade, para tê-los fazendo parte de todo o processo.
Me resta desejar boa sorte à equipe da e-Democracia na Câmara, para que consigam realizar as mudanças necessárias.
Postado também no Tática Política.
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